8 de fevereiro de 2011

Ele que via

E então ele viu. Ele viu de uma só vez tudo o que já disseram. Tudo o que ela deveria saber. O que ela sabe e cisma em esconder. Nem precisou muito, bastou um olhar de lado e ele logo viu. Tampouco de espelho. Não ele. Talvez ela. Ele viu toda a graça e ele achou graça. Viu o sorriso, o jeito de mexer no cabelo. Logo ele que nunca tinha visto. Logo ele que pouco sabe. Ele viu e fez questão de mostrar, e ela entendeu o quão cega era, mas só fingia ver. Ele não estava nem aí. Ele via tudo muito simples, via melhor que quem já tinha visto. Ele não se gabava de si. Ele se gabava dela. Ela era demais. Ele achava que ela também via, mas nisto, somente nisto, ele estava enganado. Ele não via que ela não via até o momento de ele ver. Pena, ele se irritou. Mas ainda assim ele via além. E ele era paciente com ela. Ela não. Nem com ela nem com ele. Ela se perdia no emaranhado da sua cegueira. Ela não via o essencial, era invisível. Ela só sabia ver com os olhos. Logo ela que tanto sabe. Mas ele estava lá vendo todo o tempo.  Ele não se importava, só via. E o engraçado é que eles não se viam, só falavam. Como, então, ele podia ver? Mas ele sabia. Ele estava lá o tempo todo. Ele a via em outras sem vê-la. Só ela. E ela não via. Ela não sabia. Então começou a se cansar de ver. Ele estava vendo o que não queria, ficou tudo mais claro do que deveria. Ela queria tanto que ele visse. Ela não sabia. Ele viu tudo e começou a não ver mais. Ele viu tanto que se ofuscou. Ela não entendia. Ela queria ver. Ele não. E quanto mais ela tentava, mais ele se ofuscava. Ele já tinha visto demais. Ela perdeu a hora de ver. Ele a perdeu. Então eles se perderam uma última vez. Eles não viam mais nada. Daí ela entendeu. Ela viu. Ele passou para avisar que via. Ele passou como alguém que passava por ela para avisar que a chave ia cair do bolso de trás da calça. Ele avisou para ela não perder. Ele avisou para ela ver. Ele se foi. Hoje ela vê. E eles, não mais se vêem. Do mesmo jeito que nunca se viram.

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