28 de outubro de 2011

Quem vê de longe, vê melhor

O fato é: eu nunca fui muito adepta à repetição.

Não que a rotina seja tão insuportável. Eu gosto de comer torrada pela manhã, me enfurnar num filme nas tardes de domingo e manter a tríade noturna trabalho-casa-academia, mesmo que isso custe os pandas da cara nossa de todo dia. Eu só não curto muito fazer tudo isso sistematicamente do mesmo jeito e no mesmo lugar, sempre. Se eu tivesse que ganhar a vida batendo prego, talvez eu arrumasse um jeito de inverter as partes, ou pintaria os pregos por tamanho ou faria buraquinhos em forma de desenhos. Não que fizesse grande diferença (ou fosse dar certo), mas ao menos eu não ia morrer de tédio.

Daí que eu comecei a aprender o significado de mudança antes mesmo de decorar a tabuada, o que causava alguns pequenos sustos em casa, ainda proporcionais ao meu tamanho, mas suficientes pra provisionar o estrago a longo prazo. Não raro minha mãe encontrava os móveis da casa em lugares alternados numa bela quarta-feira qualquer chegando do trabalho. Ou ainda se deparava com o guarda-roupa (dela, pra tristeza dela) mexido, ou com o meu cabelo colorido de papel crepom azul aos 12 anos, ou com as minhas malas. Coitada, teve que se acostumar. 

Nessa de mudar, começaram a ter pessoas envolvidas e rolar um agravante. Distância. Afinal, a gente só sabe que fogo queima depois de ter a pele arrancada por brincar com resto de vela. Não que eu tenha alguma noção de como controlar esta merda chamada distância, eu simplesmente gostaria de comprimir as pessoas que estão longe e transportá-las comigo em tamojunto.zip, o que ainda não foi possível, como se vê. 

Mas se tem uma coisa que alguns bons kilômetros no chão ensinam é a enxergar. No meio de um auê, a gente adora o mote “pedir opinião pra quem está de fora” e não é à toa. De longe se vê melhor. Se a distância me faz lembrar a cada segundo de quem eu amo e da saudade absurda que eu sinto, ela também levou o que já não importava tanto. Porque é justamente na falta que se faz a presença, uma bela ironia quando sucedida por um reencontro. Hoje, eu sei por quem vale a pena percorrer 700km, virar noite arrumando mala só pra passar 48 horas juntos e ter que voltar com o coração rasgando, mas ainda tão feliz. Mudar é bom, partir é assustadoramente delicioso, mas tão bom quanto, é manter os vínculos certos e ter pra onde voltar. E isso eu não quero mudar nunca. Nem que eu tenha que passar a vida batendo prego.


Durante a faculdade, a gente conhece zilhões de pessoas. Hoje, eu tenho meia dúzia delas.

De longe, a minha melhor escolha.



"I hope you have found a friend"


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