11 de novembro de 2011

Novo, de novo

Quando a gente ainda mede a altura com lápis na parede e relógio não representa nada além de uns rabiscos imaginários no pulso, tempo significa apenas uma coisa: descoberta. Passamos boa parte da nossa então minúscula vida importunando nossos pais com milhões de porquês. Ora, alguém precisa explicar, afinal, por que você ficou o dia inteiro com sede depois de engolir beber tanta água do mar nas férias de verão, mesmo ouvindo sua mãe dizer pra não fazê-lo. Poxa, era água. Nada como a experiência própria.

Você vai descobrindo da vida e ela de você. Como vão passar um bom tempo juntos, é bom irem se conhecendo logo. Você descobre que seus avós muitas vezes são mais legais que os seus pais, mas que talvez isso não seja o melhor pra sua noção de mundo, embora teime em insistir no contrário. Descobre também que seu irmão tem necessidades iguais às suas, o que significa que os brinquedos não são de sua exclusividade e que o vídeo-game é uma honra a ser conquistada. Quase sempre no tapa. E não importa quem começou a briga, vocês sempre vão dividir a culpa, assim como o castigo e as pazes. Você descobre que existem alguns poucos colegas que, curiosamente, estão sempre do seu lado nas fotografias, no dia em que mataram aula e quando foram pegos. Você não sabe por que, mas gosta um tanto deles. Eles são seus amigos, mas isso você só vai descobrir mais tarde. Você descobre o primeiro beijo, o primeiro amor e a primeira vez. E que nem sempre o primeiro é o melhor, mas que o pódio foi seu impulso pra ir mais alto.

Então você cai. Cai e dói pra burro.

Você não imaginava o quanto uma decepção pudesse doer e descobre que lágrima não é acesso vip pras suas vontades. Ela agora vem em sentido contrário, te derrubando no meio do caminho. Mas você aprendeu desde novo que depois de tombo se levanta e já sabe o que fazer. Você descobre que vento na cara, água gelada e pés descalços são coisas pra se curtir, não pra evitar. Descobre que a faculdade é sua chance de emancipação e que as roupas não aparecem lavadas e cheirosas no seu guarda-roupa pelo milagre da Nossa Senhora do Omo.

O que você não percebeu, até então, é que dentre todas as curiosidades era normal ter alguém por perto vivendo o mesmo momento, com você. Por mais que isso significasse sua derrota na disputa do videogame, afinal seu irmão era maior e mais forte. Você e a vida não estavam sozinhas, havia sempre um terceiro elemento te amparando. Ou aparando. E se as podas servem para acelerar o crescimento numa só direção, eis que aí está você, crescida, nutrida e sabendo das coisas, né?

Errado.

Você agora dá de cara com a vida. Sem ninguém pra opinar, corrigir ou ajudar. E você descobre que sabe bem menos do que imaginava. Inclusive a si própria. Você ficou mais séria, responsável e aqueles rabiscos do relógio tornaram-se reais. Tempo virou artigo raro de coleção. Clichê. Você já assinou o seu contrato vitalício de independência e vai ter que reaprender a descobrir. Inclusive a si própria. E não importa se você ainda não descobriu exatamente pra onde quer ir. Simplesmente vá.


Há dois meses, eu decidi fazer a minha primeira viagem sola, com a minha primeira economia, do meu primeiro trabalho oficial. O que já é bem comum pelas bandas daí afora, fato. Tanta gente metendo a fuça no mundo, eu é que não vou ficar parada olhando o branco da parede. Mas tirando as poucas almas que me apoiaram, tudo o que eu ouvi (ou vi nos olhares) foi algo variando entre:
"Nossa, sozinha... qual a graça?"
"Mas é arriscado!"
"Doida..."

Quinze dias, três destinos e uma mochila.
E cê sabe, eu tô torcendo pra que eles estejam certos.

Oxalá!

"Mas o que pode valer a vida,
se o ensaio da vida,
já é a própria vida" 
(Milan Kundera)

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