31 de agosto de 2011

Doce Agosto



São quase seis horas da última tarde de agosto de 2011. Tem gente agradecendo o fim do que parece ser o mês mais arrastado e lazarento do ano. Tem frio, chuva e engarrafamento do lado de fora. Nenhuma desobediência ao ritmo paulistano. Mas, alguma coisa acontece no meu coração. Sempre desconfiei que essa demora de agosto tivesse motivos justos escondidos e hoje eu bem sei por que o calendário parece ser tão insistente nessa época. Hoje, esses dias podiam durar um pouquinho mais só pra me fazer lembrar que sorte não é patenteada pela mega-sena, embora eu já tenha escolhido meus números favoritos. São 365 dias de vontade, 24 horas de persistência e 60 minutos marcando continuos recomeços. Não é pra menos.

Você me ensinou o significado de preocupação aos sete anos de idade, convenhamos, um tanto cedo pra quem tinha por grandes ocupações mirins conciliar o horário do Cavalo de Fogo com o ballet. Os papéis de carta manchados a seco ainda guardam na gaveta o choro silencioso das tardes de domingo, supostamente feitas para nada além de sorvete, sol e encontros. Vi minhas barbies se aposentarem e meu medo crescer fazendo hora extra. Foram 18 anos espreitando aquele lugar vazio na mesa de café da manhã, ouvindo o teu silêncio no almoço e convivendo com a tua ausência à noite. Aliás, se tem uma coisa que me fazia companhia no seu lugar, era esperança. Boba, mas tão verdadeira. Mesmo que como nota de rodapé nos meus sonhos. Um dia eu me lembraria.

Então eu saí de casa e, pra te falar a verdade, eu empacotei o descaso junto com a minha mudança que, por ironia barata, você me ajudou a fazer. Eu experimentei ir ver como é que funfava a rotina sem ter que tirar a angústia do armário todo dia pra vestir. Meus vinte e poucos anos imploravam por uma greta de ar e lá fui eu tomar fôlego para, depois de quatro anos, voltar a mergulhar no sufoco. Aí, você bem sabe, a coisa desandou. Unimos nossas arrogâncias em discussões e farpas trocadas ao longo dos dias. Foi o verdadeiro inferno astral sem data marcada. Eu não aceitava mais e tampouco queria aquela velha verdade de volta, feito um inútil papel desamassado. Peguei novamente a minha mala e fiz o que já estava bem acostumada a fazer. Ir embora. Definitivamente.

Veio o alívio me fazer companhia, veio a saudade e veio agosto. Nada muito incomum, exceto pelo que mudou. Foi preciso apenas uma ligação para eu pegar aquela esperança guardada e me jogar na melhor certeza que já tive. Era incrivelmente real a mudança, até quase assustadora. A euforia me anestesiou de todas as mágoas e a distância foi mero detalhe para a minha felicidade. Poder jogar conversa fora nas tardes de domingo já era a maior realização. Nunca pensei no tamanho valor do óbvio. Nunca pensei em adotar um mês assim tão mal-falado como preferido. Hoje, um ano depois, sabemos que ainda há muito a ser acertado e compreensão é o primeiro item da nossa extensa tarefa de casa. Literalmente.

Enquanto isso, só espero dizer... até o próximo agosto. 


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