27 de abril de 2011

Fundo de quintal


Não, ninguém bebeu, isso aqui não é uma alusão a crenças pagodeiras e você não caiu no blog errado (ou sim).
Ocorre que a dona desta coisa que ela gosta de chamar de blog, porque é das modices internéticas, publicou um texto no Papo de Homem e nem se dignificou a reproduzir o ato aqui, nesse mausoléu abandonado.  Então resolvi me pedir perdão e pagar os pecados a tempo.
Agradeço ao Guilherme pela paciência da edição. Apareceram várias boas almas querendo salvar o layout do BC. Está difícil selecionar, só chegam portfólios legais e gente muito da interessada. Estamos pensando numa maneira de fazer um desenvolvimento coletivo para absorver o máximo que conseguirmos. Wait and see!
Justiça seja feita, aí vai o post falando do movimento literário mais delícia cremosa que está tendo. Ah, peguei as mesmas fotos e legendas, créditos para o PdH por favor. Obrigada.

"Já pensou no mundo como uma biblioteca a céu aberto, onde os livros circulassem por diversos países e fossem lidos por inúmeras pessoas? Em tempos de difusão dos e-books, parece ser uma ideia pouco aplicável, mas está em pleno vigor e tem nome.

O BookCrossing (BC) é um movimento literário mundial que consiste na prática de três pilares: Ler, Registrar e Libertar. Após ler um livro, o leitor liberta-o num local público para ser encontrado por outra pessoa que, por sua vez, deverá fazer o mesmo. Cada livro possui um código, o BCID, criado automaticamente pelo site no momento do primeiro registro.
Na contracapa, há uma breve explicação sobre o movimento, além de um convite para os próximos leitores registrarem o local em que a obra foi encontrada, assim todos poderão rastreá-la. Os próprios leitores podem libertar seus livros criando um novo código BCID ou doá-los aos voluntários do BC em algum ponto fixo.

Me leva pra casa, manolo!
  
Ao cadastrar-se no site, o usuário está apto a todas as formas de compartilhamento de informação como resenhas, artigos, fóruns de discussão e críticas. Atividades para incentivar e dividir as experiências entre os participantes, chamados bookcrossers.
O projeto teve início em 2001, quando um programador americano, Ron Hornbaker, identificou a oportunidade de se compartilhar e rastrear livros pela internet tal como era feito com notas de dólar, selos e figuras de coleção.
A ideia já movimentou mais de 6 milhões de livros por meio de 900 mil bookcrossers em cerca de 130 países. A equipe mantenedora está estabelecida em Sanpoint, Idaho, nos EUA, e conta com voluntários pelo mundo todo que fazem a locomotiva literária andar.
O Brasil está em 17º no ranking mundial de participação com 7 mil leitores e os parceiros e Pontos de mantém um site exclusivo com atualizações de notícias, eventos e ações de libertação dos livros no país.

BookCrossing em ação
A equipe brasileira procura agora um voluntário que possa desenvolver o site e aprimorá-lo, ajudando o BC a expandir suas fronteiras em terras tupi-guarani.
Os requisitos do programador são:
  • Dominar a plataforma WordPress;
  •  Desenvolver em PHP;
  • Dominar o Google Apps;
  • Fazer edição de imagens PSD/PNG. 
Se você quiser contribuir ou sabe de alguém que possa, entre em contato com esta que vos fala pelo email claraufv@gmail.com. Também é possível nos ajudar indicando estabelecimentos para tornarem-se um ponto de BookCrossing ou mesmo resgatando aquele clássico do fundo do armário e libertando-o no mundo.
Confesso, à primeira vista não é fácil aceitar a ideia de nos desfazermos dos nossos livros, já que criamos uma cultura de apego material e vínculo emocional a eles. Mas tão logo a vontade de compartilhar a experiência de uma leitura torna-se maior do que a de guardar tantos volumes numa estante.
Quem sabe livros são como homens, precisam se perder para se encontrar."

Para acessar o original clique aqui.
Então, tá esperando o que pra desovar sua prole literária, criatura?
:)

5 de abril de 2011

Lá de longe

Como não é novidade pra quem bem me conhece, eu adoro recordações. Sou daquelas cancerianas encasquetadas que, se pudesse, guardava cada pedacinho da vida numa caixa de papel só pra poder abri-la às vezes e sentir aquele momento de novo. Sou apegada às pessoas que me marcam, aos cheiros que descubro (tenho nariz de tatu) e aos lugares por onde passo. Chega a ser patética toda essa afeição. Fico relembrando aquela fatia que eu degustei, lambi os dedos e não me conformei quando acabou.

Daí a gente cresce. A caixa vai ficando maior, somando lembranças e ocupando um puta espaço. Eu, sem saber o que fazer com tanto peso, vou guardando umas fotos aqui e uma memória ali pra ver se consigo acomodar toda a tranqueira. A cada ano, o conteúdo dela cresce mais e mais feito bolo com dosagem extra de fermento que vai transbordando pelas bordas. Até não sobrar mais espaço, me restando enfiar os pertences do passado nos quatro cantos do presente. Pronto, disparou o alarme da nostalgia ensebada. Com toda a sabedoria de um jegue, eu peguei a minha caixa cremosa, colorida, coberta de chantilly e perfumada de lembranças e coloquei-a bem no meio do caminho, com direito a tropeço e praguejo. Depois do tombo e da cara quebrada, eu resolvi dar uma olhadinha pra trás pra ver o que estava me empacando. Qual não foi a surpresa frente à autoconstatação.

Não sei dos outros, mas eu tive uma vida bem legal até então. Simples e deliciosamente aproveitada. Infância nos conformes, brincava na rua, pendurava em árvore e vivia com o joelho esfolado. Adolescência digna de semvergonhices e faculdade muito bem vivida. Ah, a faculdade... quatro anos pra se guardar num potinho a sete chaves. Viciosa, para os íntimos, me rendeu a melhor época da vida.  Sabe, tava muito bom pra eu querer crescer. Mas caso o calendário poupe alguém, por favor me avise pra eu tirar as devidas satisfações com o tempo. Pois logo acabou a fase da malemolência e me tiraram a graça da despreocupação como quem tira doce de criança. 

Jura que meu tempo acabou?
Meus amigos agora marcavam presença na caixa de emails enquanto eu marcava vaga de emprego. Ficou tudo assim, meio sem graça, meio sem cor. Sem pensar muito, eu me vi na realidade cinza de São Paulo, aprendendo sobre números, direções e dissabores. O espelho não me reconhecia e a recíproca era dolorida e verdadeira. Nada do que estava ali me representava. Na esperança de me encontrar nas recordações, abri a caixa de papel pra tentar me achar. Inútil esforço. Trazê-la pra realidade só fez aumentar o desconforto. Enquanto eu tentava encontrar alguma saída, o óbvio apareceu pra me visitar. Chegou com intimidade, como se me conhecesse desde sempre. E de fato conhecia, só faltava me fazer enxergá-lo.

Foi quando percebi que saber trocar de cenário é saber compensá-los. É uma constatação evidente  (dã),  mas exige boa dose de sabedoria prática. Eu, que me achava muito sabida por sair de casa aos 18, lavar minhas roupas e fazer arroz sem queimar, me vi desnorteada aos 24. Passado o meu estágio de larva aprendiz, o que se deu a seguir não foi um novo começo de era de gente fina, elegante e sincera. E é justamente aí que nasce a astúcia da compensação, pequena gafanhota.
Talvez eu não tenha mais tantos amigos por perto, mas posso ligar pra eles e enchê-los de bobagem no ouvido a qualquer hora. E ser xingada por isso quando for de madrugada. Posso não ter mais as tardes tranquilas, mas preencho-as fazendo algo útil e ganhando uns trocados que chamo carinhosamente de salário. Também não tenho as festas lendárias da universidade, mas ganhei um bocado de lugares novos pra conhecer. Nem vou ter os mesmos chamegos e atenção daquele que ficou no passado, mas posso encontrar outras características que até então eram ausentes. Minha família está espalhada aos quatro ventos e contraditoriamente nunca tão unida como agora. Enfim, se eu parar de tentar reproduzir as experiências já vividas, vou encontrar um mundo tão cheio de novas possibilidades quanto aquele lá do início.

E ainda assim tenho a chance de selecionar os momentos e as pessoas que mais gostei pra guardá-los naquela caixa, no seu devido lugar. Porque né... o tempo é que nem funil, deixa passar só o que presta.

Eu, que sempre quis mais do mesmo, já não me contento com o mesmo de sempre.

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