22 de fevereiro de 2011

Categoria fitness

Desde que abandonei meu saudoso ballet, lá pelos idos de 2003, venho aprendendo a lidar com este ambiente tosco peculiar que é uma sala de musculação. A verdade é que eu sempre tive um metabolismo muito acelerado e responsável por alguns apelidos carinhosos de infância como magrela, carne seca, Olívia Palito e coisas legais do gênero. Por isso, ao invés de sentar no canto de um sofá e praguejar contra os palhaços contratados de festa de criança que me davam esses nomes, resolvi fazer algo por mim e adentrar neste tedioso fantástico mundo do condicionamento físico.

As academias, por exemplo, têm um público que varia desde os frequentadores frenéticos, passando pelos preguiçosos esforçados (como eu), até os visitantes esporádicos. Adaptando o que havia disponível ao que os meus cambetchos em forma de perna necessitavam, procurei algo conivente com este metabolismo de papa-léguas que vos fala. O que encontrei? A musculação, um ambiente interativo repleto de máquinas de tortura e seres intrigantes que fazem barulhos estranhos. Com o passar dos anos eu fui variando entre visitante esporádica e freqüentadora, digamos assim, média - não são sinônimos, acredite em mim. Depois de um tempo e algumas mudanças, pude notar que, salvo o canal de rádio, certos detalhes não mudam quer você esteja no interior das minasgeraisuai ou na capital da Garoa.
Toda sala de musculação que se preze tem uma base de  público dividido em algumas categorias, a saber:

Categoria mamãe sou forte: corresponde a, aproximadamente, 70% do target. Esta casta é dominada pelo gênero masculino, embora algumas mulheres insistam em participar dela para a vergonha alheia da classe. Sua preponderância é notável já que seus indivíduos podem ser identificados a uma distância considerável porque, geralmente, carregam uma corrente de prata reluzente no pescoço e vestem um abadá de cores luminosas. Eu tento conter as lágrimas toda vez que vejo um abadá sendo usado como roupa, mas às vezes é difícil. O tipo é dotado de um amor próprio tão incrível que não me surpreenderia se a cama fosse um espelho só pra dormir abraçado com ele mesmo, assim como o teto e as paredes do quarto. Passam a maior parte do dia na saleta em questão, exercitando seus músculos, orgulho inveterado da classe. Bom mesmo seria se exercitassem o cérebro na mesma medida. Para as que têm gosto pela categoria, mas não por academia, não se preocupem! Eles podem ser encontrados em alguma rave com um pirulito de morango na boca e óculos de sol Oakley ou imitações tortas (mais provável).

Categoria ursinhos carinhosos: Possuem vasta semelhança com a categoria acima, mas têm um diferencial marcante que os obriga serem classificados de forma distinta: querem ser seu amiguinho! É aquele cara que adora te ajudar a trocar o peso de um aparelho, ele quase te persegue pra trocar todos os pesos, conversar sobre amenidades, temperatura do dia, comentar o quanto você está sumida e cumprimentar com beijinho no rosto – pra mim essa é pior parte, as pessoas estão suadas, qual a razão em fazer isso? Eles não estão interessados em saber se você quer papo, puxam conversa sem saber o seu nome e mesmo que recebam respostas monossilábicas ou um sorriso amarelo, continuam o monólogo como se nada tivesse acontecido. E por mais que se trace um roteiro estratégico de aparelhos para desviar deles, a tentativa é falha, eles surgem do limbo sempre com alguma conversinha xarope daquela. Alguns são mesmo carentes e não sobrevivem sem o beijinho de boa noite da mamãe. São os ursinhos carinhosos legítimos. Outros só querem se fazer passar por tal porque acreditam que assim as pobres moças vão se afeiçoar por eles. Uma lástima. Pras mulheres, claro.

Categoria cansei de ser nerd: é uma categoria curiosa e engraçada. Composta por aqueles que foram magrelos (oi, carapuça) e esquisitos a vida inteira, mas se cansaram da realidade injusta. Daí preparam seu kit de guerrilha e vão à luta. Eles podem ser identificados usando tênis branco e meia preta, bermudão, óculos de grau ou camisas de numeração três vezes maior. Alguns evoluem até demais reposicionando seu produto no mercado para a alegria do público feminino. Por outro lado, há os que jamais abandonam o seu posto geek e estão muito bem assim, obrigado. Desconfio que calculem friamente o tempo que vão levar fazendo a sua série versus tempo necessário pra terminar o download da última versão daquele programa de edição de HTML. São simpáticos e com humor sarcástico, só precisam tomar cuidado pra não serem acometidos pela síndrome dos ursinhos carinhosos. O vírus pega fácil.

Se você não se encaixou em nenhuma destas categorias, calma, não fique triste, há inúmeras outras por aí ao ar livre e até mesmo nas calorosas academias. Se você gosta de se mexer ou só finge mesmo, como eu, vai encontrar um habitat com facilidade, os atletas de fim de semana não me deixam mentir. Se não, o sofá com cobertor é sempre um lugar convidativo, só não adianta vir com lamúrias dos efeitos catatônicos.

1 Comentário:

Nadja G. disse...

Oi, Clara, tudo bem? Vi que você linkou meu blog, o Se Vira nos (Quase) 30. Obrigada!! Muito bom o seu, vou linkar também.

Beijos

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