25 de outubro de 2009

Uma nada breve história de habilitação [2]

Dando continuidade à aventura da carteira, voltei dos EUA certa de que iria fazer a prova de legislação na primeira data disponível do semestre, como me havia sido prometido. Bem, realmente foi a primeira data disponível…para daí a 50 dias! Emputeci, e pior, estava com a praga americana instalada no meu corpo que me fazia requerer tudo que me era direito, um discurso muito romântico, porém pouco eficaz em se tratando do jeitinho brasileiro. A Vê (vesga-simpática que vou abreviar no codinome), continuava com  aquela postura de “estou do seu lado, vamos até o fim!” … claro que eu não acreditava nessa balela toda, mas resolvi deixá-la bancar minha cúmplice para ver até onde ela ia. Nada feito, senta, chora e espera, legislação só daqui a um mês, no mínimo! A essa altura do campeonato, a monografia já dominava todo o resquício de bom humor que eu poderia ter, além de outros conflitos no segmento masculino…ahh, o desafio de ser mulher!
Mas voltando  ao foco, o tempo passou e eu pude fazer a bendita prova de legislação num bendito sábado às benditas oito horas da manhã na bendita delegacia que não era nadica perto da minha casa. Pois bem, prova feita e aprovada, o negócio era partir para as aulas de rua, tentar fazer umas duas por dia e marcar logo o exame porque o semestre já estava, adivinhem, quase na metade.  “Em qual carro você quer fazer, querida?” perguntou a Vê. Marquei num Gol antigo, aconchegante, tirando o instrutor abusadinho que logo vai dar o ar da graça por aqui.  Ah, não preciso dizer que esperei mais uns VINTE dias para conseguir começar a fazer as aulas, né? Nesse período, amaciava o meu humor pagando mais uma taxa da bixice da L-D-V (Licença de Direção Veicular) para fazer as minhas aulinhas de rua tão aguardadas.
O dia da primeira aula chegou e eu comecei a brincar só na UFV para sentir o carro, acostumar com todos os detalhes que se executam de olhos fechados depois e, claro, não sair matando ninguém tão cedo, o que era bem provável, com os meus nervos a flor da pele em decorrência da monografia. O instrutor, que nem o nome eu me lembro pela graça divina, não perdeu tempo em começar as piadinhas de charreteiro ”ahh mas mulher bonita aprende rápido” …”grunf!” … “treina só conversão agora, você malha? Tá forte hein!” … “quer morrer??!” … claro que as minhas respostas eram mentais, mas eu bem acredito na força do pensamento!
E assim fui fazendo as minhas aulas, até começar a brincar na rua também, xingando os ciclistas, os pedestres, os cachorros e a mãe do instrutor. Empolgada e iludida pela “próxima data disponível”, fui marcar o exame para dar o tempo certinho de eu fazer o restante das aulas. Tsc, tsc, tsc … a Vê revirou seus olhinhos salientes e me disse que, simplesmente, não havia vaga para os próximos DOIS MESES.
continua…

21 de outubro de 2009

She never sleeps

Manhattan

Quando estive lá pela primeira vez, tomei conhecimento imediato do que tanto falavam. Não por querer conhecer um lugar que, infelizmente, tornou-se clichê, mas  uma contradição me impulsionava a ir ver com os meus próprios olhos toda essa clichezada e confesso…me rendi! A que?
Ao brilho iminente nas ruas, calçadas, passeios, pontos turísticos, letreiros, àquele brilho quando anoitece clareando todas as esquinas e ao brilho do dia também, do movimento, mas em especial ao brilho no olhar das pessoas, um brilho tão peculiar e ofuscante que chega a parecer que estão sonhando acordadas, entendi na hora, pois aquele brilho também me pertencia. Me rendi, então, à tal sensação de sonhar acordado, de viver e ver tudo com os olhos bem arregalados de surpresa e fascínio por cada novo detalhe que surgia ao meu caminhar e, de repente, me dei conta de que não era uma apenas uma sensação, eu estava, de fato, sonhando acordada. Pude entender o que significa um sonho de olhos abertos, uma percepção diferente do que se está vivendo, como se você não estivesse ali de corpo, algo que só a sua alma compreende, me belisquei e continuei a andar. Aliás, andar, andar, andar foi o que eu mais fiz e o que aconselho a qualquer outro turista bem disposto a fazer.  Há vida, cheiro, cores, línguas diferentes, personagens distintos, há de tudo e para todos. Há um estilo cosmopolita que invade sem pedir licença, ele chega e fica, estira suas pernas, pede um drink e convida todos a sua volta a degustá-lo, sujeito bacana esse cosmopolita. É uma mistura para matar a sede, mistura de gente, significados, gostos e trejeitos, bares e lugares, quem sabe o que quer, encontra e se não sabe, é fisgado por aquilo que virá a saber, em cima do muro ninguém fica. Me rendi, me rendi à loucura e nela me encontrei tão submissa que não queria mais respostas, apenas viver todos os segundos, aos quais implorava que não fossem breves, e sim que passassem devagar. Mas os segundos passaram tão rápido que deles só me lembro dos vultos, tentei me agarrar aos minutos que caminhavam com pressa, a mesma pressa daqueles que caminhavam pelas estações de metrô e avenidas. Pedi aos minutos que me esperassem, mas os perdia de vista cada vez mais, eles se foram e com eles também as horas e os dias, diziam a mim que nada podia parar, que a mudança era estado e condição inerente àquela onda que me envolvia e o meu dever, e também direito, era tirar o que tinha de proveito. Pois bem, arquivei as lembranças destes momentos e guardei-as em um lugar na memória de onde teriam coragem de sair. Estão todas lá, basta fechar os olhos e voltar a sonhar…

25 de setembro de 2009

Vontades

Vontade dá … e NÃO passa!
Cabeça vazia às vezes tem oficina que preste. Já me explico. Estava cá com os meus botões pensando nessa coisa que dizem por aí que vontade dá e passa. Bem, depende de qual vontade se esteja falando. Vontades superficiais e, em sua maioria, materiais, passam mesmo. Isto porque estão relacionadas à algo perecível e o que o tempo apaga não tem valor assim tão fidedigno a ponto que não se viva sem (não estou dizendo que exista amor embaixo da ponte!).
A vontade a qual eu me refiro é inerente à natureza humana. Faz a gente se coçar, perder o sono, a paz e (por Deus!) as estribeiras. Por exemplo a vontade do conhecimento. Não importa a cultura, o lugar, o espaço ou o tempo. O ser humano é bicho curioso, quer saber o porquê, entender como e para qual fim. Conhecimento nunca é demais, ninguém te rouba e é o seu maior aliado. Você pode querer conhecer o que quiser, um lugar, uma praia, uma montanha, pessoas, idiomas, uma cidade, um estado, um país … conhecer o mundo e a si próprio. E vem cá, então, eu te pergunto: essa vontade passa? E o que acontece? Vive-se em estado vegetal? Creio que não.
Também a vontade do outro. Até hoje e aonde eu sei, ninguém consegue viver sozinho. Duvida? Pois então tente fazer o teste de isolamento, mas cuidado com suicídio e coisas do gênero, não quero ser culpada de nada. É que a gente precisa do outro … se Sartre dizia que “o inferno são os outros”, pois eu me arrisco a dizer que, neste caso, céu e inferno cabem no clichê da mesma moeda. Ah, pode ser qualquer um, um amigo distante, um irmão viajante ou até mesmo aquele vizinho irritante! A vontade do abraço do pai e do colo da mãe, do conselho do vô e do carinho da vó … e, claro, a vontade daquele alguém em que você está pensando agora. Acha que essa vontade passa? E aí, vai viver então numa bolha impermeável de amor-próprio? Vai vendo…
Bem, estes são apenas dois singelos exemplos dentre os inúmeros que eu poderia, aqui, citar, mas me dê licença agora que eu vou tratar de cuidar das minhas vontades e creio que você deveria fazer o mesmo.

21 de setembro de 2009

Uma nada breve história de habilitação (1)

Demorou, mas lá fui eu aos 22 anos iniciar o longo processo para se obter uma habilitação nesse país caótico. Longo será entendido o porquê posteriormente.
Estava no caminho de volta de uma aula, ainda em Viçosa, quando ví a plaquinha da auto-escola saltitando e piscando para mim, pensei  “é agora ou nunca!”. Pois bem, cheguei no tal lugar que irei manter em sigilo para me reservar o direito das piadas e comentários infames. A recepcionista, simpática, perguntava em que podia ajudar enquanto eu aguardava a minha vez, não contando que aquela era a minha vez e que ela era vesga de um olho para a direita, o que me fez crer que ela estava falando com alguém atrás de mim. Quando me dei conta da situação, perguntei sobre o preço … “aí vc faz o psicotécnico, paga uma taxa, faz a legislação, paga uma taxa, faz a prova, paga uma taxa, paga uma taxa para dirigir, uma taxa para o exame e outra taxa para respirar durante o processo.”
Só isso? Opa! Começo que dia? Só marcar o psicotécnico, então tá, espero que nesse eu passe de primeira! Tudo feito, taxas pagas com o suor do fundo do cheque especial da minha conta, afinal eu tinha uma vida noturna e bohemia para sustentar, mas como já estava no último ano de faculdade, havia me tornado expert em caixa 2 melodramático.
Vieram as aulas soníferas de legislação e, acredite, eu frequentei boa parte delas até começar a assinar por dias extras de onipresença. Paguei mais uma taxa e marquei a prova, estudei o livrinho didático (menos a parte de mecânica) e estava prestes a enfrentar o caos explícito das ruas de Viçosa. Para garantir, resolvi ir à aula de revisão no dia anterior à prova. Lá pelas massantes quatro horas de revisão, a professora resolve entregar os comprovantes e eu, que já estava em estado alfa, despertei da minha vegetação quando ví que todos os comprovantes tinham sido entregues, menos o meu, claro. Fui à secretaria para pegar o meu bendito comprovante sem o qual eu não faria a prova, na esperança de ele estar perdido entre as papeladas da recepcionista-vesga-simpática, nada feito. Ela entra no tal sistema (sempre tem que ter um sistema), respira profundamente, olha para mim, bem, não diretamente para mim, e diz “você não está cadastrada no sistema” … “hein? mas como?” … “amor, você não está cadastrada, mas fique tranquila que nós iremos verificar o erro, você trouxe o comprovante da taxa?” … “claro! taxa, todas as taxas! pultaqueopareo, só o que me faltava”. Mas fiquei tranquila, afinal, muito ainda estava por vir, isso era só o início da saga e os santos bem me fizeram manter a calma para poupar vidas.
Procuraram-me de todas as formas no sistema, mas ele insistia em acusar minha ausência, a delegacia dizia que não era com ela, muito menos a auto escola, os papéis e as taxas deviam ter ido para o limbo (vácuo para onde vão os meus pertences perdidos), mas a recepcionista-vesga-simpática dizia não desistir! Ela iria até o fim! E assim esperei algumas semanas por um súbito aparecimento no sistema, em vão. O semestre estava acabando e o meu embarque para os EUA se aproximando, o que eliminava quatro meses no tempo da minha pauta sem, ao menos, ter feito a prova de legislação. Desisti da luta, porque precisava focar meus esforços e atenção nos detalhes da viagem, assim, me garantiram que eu poderia fazer a prova assim que voltasse, pois até lá já teriam desvendado o meu não-aparecimento no sistema. Com os santos ao meu favor, viajei tranquila.
continua….

17 de setembro de 2009

Escolhas.

Esquerda ou direita? Cabo azul ou vermelho? Doce ou salgado? Com a luz acesa ou apagada? Açucar ou adoçante? Verde ou vermelho? Praia ou montanha? Frio ou calor? Água ou fogo? Por cima ou por baixo? Com salto ou sem salto? Esmalte escuro ou claro? Cabelo curto ou comprido? Orkut ou Facebook? ou Twitter? Blog? Silêncio ou barulho? E o copo … está meio vazio ou meio cheio? Solteiro ou casado? namorado? viúvo? divorciado? juntado? Vai? … ou racha? Este ou esse? Por que ou porque? Branco ou preto? De carro ou de moto? e bicicleta? Caso ou compro uma bicicleta? Frito ou assado? Mau ou bom? Mau ou mal? Bom ou bem? Ruim? Dia ou noite? Vida ou morte? Ser ou não ser…..

Seria mais fácil se escolher um caminho na vida fosse tão prático quanto as (minhas) respostas para as dúvidas acima. Mas já que não dá para saber, que o futuro me mostre a resposta … let it be!

<<

  ©Pitacoteando - pequenos pitacos de grandes ócios - Todos os direitos reservados.

Template by Dicas Browser | Template original Dicas Blogger | Topo