21 de setembro de 2009

Uma nada breve história de habilitação (1)

Demorou, mas lá fui eu aos 22 anos iniciar o longo processo para se obter uma habilitação nesse país caótico. Longo será entendido o porquê posteriormente.
Estava no caminho de volta de uma aula, ainda em Viçosa, quando ví a plaquinha da auto-escola saltitando e piscando para mim, pensei  “é agora ou nunca!”. Pois bem, cheguei no tal lugar que irei manter em sigilo para me reservar o direito das piadas e comentários infames. A recepcionista, simpática, perguntava em que podia ajudar enquanto eu aguardava a minha vez, não contando que aquela era a minha vez e que ela era vesga de um olho para a direita, o que me fez crer que ela estava falando com alguém atrás de mim. Quando me dei conta da situação, perguntei sobre o preço … “aí vc faz o psicotécnico, paga uma taxa, faz a legislação, paga uma taxa, faz a prova, paga uma taxa, paga uma taxa para dirigir, uma taxa para o exame e outra taxa para respirar durante o processo.”
Só isso? Opa! Começo que dia? Só marcar o psicotécnico, então tá, espero que nesse eu passe de primeira! Tudo feito, taxas pagas com o suor do fundo do cheque especial da minha conta, afinal eu tinha uma vida noturna e bohemia para sustentar, mas como já estava no último ano de faculdade, havia me tornado expert em caixa 2 melodramático.
Vieram as aulas soníferas de legislação e, acredite, eu frequentei boa parte delas até começar a assinar por dias extras de onipresença. Paguei mais uma taxa e marquei a prova, estudei o livrinho didático (menos a parte de mecânica) e estava prestes a enfrentar o caos explícito das ruas de Viçosa. Para garantir, resolvi ir à aula de revisão no dia anterior à prova. Lá pelas massantes quatro horas de revisão, a professora resolve entregar os comprovantes e eu, que já estava em estado alfa, despertei da minha vegetação quando ví que todos os comprovantes tinham sido entregues, menos o meu, claro. Fui à secretaria para pegar o meu bendito comprovante sem o qual eu não faria a prova, na esperança de ele estar perdido entre as papeladas da recepcionista-vesga-simpática, nada feito. Ela entra no tal sistema (sempre tem que ter um sistema), respira profundamente, olha para mim, bem, não diretamente para mim, e diz “você não está cadastrada no sistema” … “hein? mas como?” … “amor, você não está cadastrada, mas fique tranquila que nós iremos verificar o erro, você trouxe o comprovante da taxa?” … “claro! taxa, todas as taxas! pultaqueopareo, só o que me faltava”. Mas fiquei tranquila, afinal, muito ainda estava por vir, isso era só o início da saga e os santos bem me fizeram manter a calma para poupar vidas.
Procuraram-me de todas as formas no sistema, mas ele insistia em acusar minha ausência, a delegacia dizia que não era com ela, muito menos a auto escola, os papéis e as taxas deviam ter ido para o limbo (vácuo para onde vão os meus pertences perdidos), mas a recepcionista-vesga-simpática dizia não desistir! Ela iria até o fim! E assim esperei algumas semanas por um súbito aparecimento no sistema, em vão. O semestre estava acabando e o meu embarque para os EUA se aproximando, o que eliminava quatro meses no tempo da minha pauta sem, ao menos, ter feito a prova de legislação. Desisti da luta, porque precisava focar meus esforços e atenção nos detalhes da viagem, assim, me garantiram que eu poderia fazer a prova assim que voltasse, pois até lá já teriam desvendado o meu não-aparecimento no sistema. Com os santos ao meu favor, viajei tranquila.
continua….

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