11 de março de 2011

O fruto permitido

yummy!

Mágica, né, essa tal de revolução tecnológica. Eu, que cresci e desenvolvi os ossos junto com a parafernália, fico abismada com tamanha criatividade. É gadget pra lá, gadget pra cá e quando vê, a coisa evoluiu num espaço de tempo tão curto, mas tão curto, que sequer paramos pra respirar e entender o que está acontecendo. Como um surto viral, uma certa maçã foi sendo mordida não só por Eva, mas multidões. O pecado da gula se ascendeu, Adão comemorou e tem gente sofrendo de indigestão sem saber o motivo. O fruto do paraíso nunca foi tão cobiçado. A diferença é que agora ele não dá só em árvore.

Cá pra nós, nunca comprei um produto da Apple. Não que me falte vontade, mas a minha árvore, antes de dar maçã, tem que dar dinheiro. E meu dinheiro, antes de virar uma maçã, precisa virar muitas outras coisas. Perrengue, a gente vê por aqui. Vou travando essa batalha com as minhas planilhas financeiras pra fazer caber todos os meus desejos nas linhas espremidas do excel (galerinha do mac é capaz de parir trigêmeos ao ouvir falar no office) quando percebo que não está faltando entretenimento para a minha sobrevivência.
Meu computador, querido, meu filho, tá vivo e passa bem. Aqui nozói do furacão tem biblioteca e sebo e livraria e revistaria e coisaria pra mais de metro.Se inventassem pontuação por tempo na Fnac, eu tava aí ganhando prêmio. Meu celular faz todas as ligações que preciso e envia todas as mensagens que quero, o que chega até a ser meio perigoso. Internet eu tenho em casa e no trabalho. Vejo todos os filmes que quero, ouço todas as músicas que gosto e meu coração nunca deu pirepaque enquanto eu estava correndo por falta de vigiar os batimentos cardíacos no medidor de pulso, amém. Do que mais eu preciso?

Ah sim, eu preciso ter um celular com internet acoplado no meu corpo pra poder checar a cada segundo as atualizações no twitter e o tanto de curtir que ganhei naquela última frase no facebook. Preciso postar foto do meu drink/cachorro/balada/namorado/pôr-do-sol/café/tatuagem no instagram com uma frequência razoável pra ninguém achar que eu morri. Afinal, se a minha vida na internet não tem repercussão, algo está errado. E pra angariar tanto ibope assim, só mesmo estando com todos os botões, tanto os seus quanto os do seu gadget, conectados vinteequatrohoras. Orra, ninguém mais vive offline? Ninguém mais vai pro bar com os amigos tomar cerveja e formular teorias ébrias? Ninguém mais passa um fim de semana épico sem ter que comunicar isso em todas as redes sociais?
É óbvio que a mudança de comportamento vincula-se às mudanças sociais. Não tenho a pretensão em contestar a utilidade dos aparatos tecnológicos mesmo porque isso seria cuspir pra cima e me banhar na hipocrisia. Os apetrechos estão aí é pra facilitar a nossa vida mesmo. Trazer quem tá longe pra mais perto, diminuir a saudade, otimizar nosso tempo, ampliar o acesso à informação, movimentar a economia e vários outros benefícios. Só que no meio de tanta invenção, esqueceram de reinventar o bom senso. Na boa, celular nenhum nesse mundo vai te dar chocolate num dia ruim ou te chamar pra fazer nada juntos.  Se você achar que sim, bom, aí você está com problemas e devia procurar um grupo de ajuda, fazer terapia, sei lá.

Em breve eu vou ter que comprar um celular menos bastardo que o meu porque tá ficando impraticável perder o tempo gasto em locomoção aqui nessa jeringonça de cidade grande enquanto eu poderia resolver aquelas pendências rotineiras (na verdade mesmo, tá foda viver sem o google maps pra me falar os trajetos quando eu fico perdida). E não será Iphone nem Ipod nem Itouch nem Ipad, eu já disse que a minha árvore ainda é um broto. O ponto nisso é que eu me forcei a esperar surgir uma necessidade pra fazer essa compra, assim como vou me forçar a continuar dando mais atenção a quem for de carne e osso. E quando eu digo que me forcei é porque, apesar de todo esse discurso born to be wild, eu não sou nenhum ser superior aos reles mortais escravos da tecnologia. Eu gosto da bagunça, só procuro dosar entre aquilo que, pra mim, tem mais valor.

Afinal, qual foi a última vez que você chegou em casa e ligou o chuveiro antes do computador? 

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