Dia de Carnaval
Tem quem ame, venere, odeie ou
despreze. Tem quem adapte o calendário e só pegue a senha do início do ano lá
pro fim de fevereiro e quem gostaria de enforcar o feriado a olhos vendados.
Gostando ou não do leleô, vamos admitir, é difícil passar ileso pelo Carnaval. Mas também é
perdoável, no carnaval tudo se absolve, tudo se explica. Como em parênteses,
sabe?
Diz a senhora Wikipedia o
seguinte:
Um parêntese é uma palavra, expressão ou frase que se interpõe num texto para adicionar informação, normalmente explicativa, mas não essencial. A característica fundamental dos parênteses é não afetar a estrutura sintática do período em que é inserido.
Quer dizer, você tá lá começando
o ano cheio das promessas, ondinhas puladas e aquela interminável lista to-do
jurando que, nesse ano, a sua dignidade humana vai aumentar. Mas aí logo no
segundo mês chega o capeta travestido de Carnaval e você entra lindamente na
fila do pecado. Fica tranqs, amigo, que o inferno taí pra ser curtido e compartilhado. Não importa o tamanho ou alcance do seu feito, quando você contar ele
será excepcionalmente inserido em parênteses (era carnaval...) e todo mundo vai
poder respirar aliviado na mesa de jantar, passando a salada adiante na mais perfeita
normalidade. Porque né, já que a intenção é “não afetar a estrutura sintática
do período em que é inserido” pode-se dizer que esses quatro dias vêm embalados
a vácuo. Tá todo mundo ali dentro sem espaço, se esbarrando, se misturando, se acabando,
se lascando. Mas tudo explicado e chancelado pela regalia do parênteses
carnavalesco. Então, querido, se você vestiu a fantasia da vergonha, não se
acanhe. Era carnaval.
Claro, há consequências. Humanas,
até. Afinal se eu tô aqui batendo meus dedos nas teclinhas do computador, é
porque meus queridos progenitores um dia se encontraram no carnaval e foram felizes para sempre. Uma simples amostra da provável existência de vários baby-boomers-geração-fevereiro
esquentando o capitalismo do século XXI. Mas vamos deixar o erro de controle de
natalidade pra lá. Fato é que a parte do felizes para sempre pode ter um prazo bem
mais reduzido, afinal um parêntese “adiciona informação, normalmente
explicativa, mas não essencial.” Ou seja, seu parêntese pode até ter sido uma boa atuação, mas talvez acabe ali
mesmo. A possibilidade de virar parágrafo vai depender dos detalhes ali dentro.
E da vontade em querer explicar mais...
E da vontade em querer explicar mais...
Veja bem, até o título deveria estar
seguido de parênteses (autorais).
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