Novo, de novo
Quando a gente ainda mede a
altura com lápis na parede e relógio não representa nada além de uns rabiscos
imaginários no pulso, tempo significa apenas uma coisa: descoberta. Passamos
boa parte da nossa então minúscula vida importunando nossos pais com milhões de
porquês. Ora, alguém precisa explicar, afinal, por que você ficou o dia
inteiro com sede depois de engolir beber tanta água do mar nas férias de
verão, mesmo ouvindo sua mãe dizer pra não fazê-lo. Poxa, era água. Nada como a experiência própria.
Você vai descobrindo da vida e ela de você. Como
vão passar um bom tempo juntos, é bom irem se conhecendo logo. Você descobre
que seus avós muitas vezes são mais legais que os seus pais, mas que talvez
isso não seja o melhor pra sua noção de mundo, embora teime em insistir no contrário. Descobre também
que seu irmão tem necessidades iguais às suas, o que significa que os brinquedos
não são de sua exclusividade e que o vídeo-game é uma honra a ser conquistada.
Quase sempre no tapa. E não importa quem começou a briga, vocês sempre vão
dividir a culpa, assim como o castigo e as pazes. Você descobre que existem
alguns poucos colegas que, curiosamente, estão sempre do seu lado nas fotografias,
no dia em que mataram aula e quando foram pegos. Você não sabe por que, mas
gosta um tanto deles. Eles são seus amigos, mas isso você só vai descobrir mais
tarde. Você descobre o primeiro beijo, o primeiro amor e a primeira vez. E
que nem sempre o primeiro é o melhor, mas que o pódio foi seu impulso pra ir
mais alto.
Então você cai. Cai e dói
pra burro.
Você não imaginava o quanto
uma decepção pudesse doer e descobre que lágrima não é acesso vip pras
suas vontades. Ela agora vem em sentido contrário, te derrubando no meio do
caminho. Mas você aprendeu desde novo que depois de tombo se levanta e já sabe
o que fazer. Você descobre que vento na cara, água gelada e pés descalços são
coisas pra se curtir, não pra evitar. Descobre que a faculdade é sua chance de emancipação e que as roupas não aparecem lavadas e cheirosas no seu
guarda-roupa pelo milagre da Nossa Senhora do Omo.
O que você não percebeu, até
então, é que dentre todas as curiosidades era normal ter alguém por perto
vivendo o mesmo momento, com você. Por mais que isso significasse sua derrota
na disputa do videogame, afinal seu irmão era maior e mais forte. Você e a vida
não estavam sozinhas, havia sempre um terceiro elemento te amparando. Ou
aparando. E se as podas servem para acelerar o crescimento numa só direção, eis
que aí está você, crescida, nutrida e sabendo das coisas, né?
Errado.
Você agora dá de cara com a vida. Sem ninguém pra opinar, corrigir ou ajudar. E você descobre que sabe bem menos do que imaginava. Inclusive a si própria. Você ficou mais séria, responsável e aqueles rabiscos do relógio tornaram-se reais. Tempo virou artigo raro de coleção. Clichê. Você já assinou o seu contrato vitalício de independência e vai ter que reaprender a descobrir. Inclusive a si própria. E não importa se você ainda não descobriu exatamente pra onde quer ir. Simplesmente vá.
Há dois meses, eu decidi fazer a minha primeira viagem sola, com a minha primeira economia, do meu primeiro trabalho oficial. O que já é bem comum pelas bandas daí afora, fato. Tanta gente metendo a fuça no mundo, eu é que não vou ficar parada olhando o branco da parede. Mas tirando as poucas almas que me apoiaram, tudo o que eu ouvi (ou vi nos olhares) foi algo variando entre:
Há dois meses, eu decidi fazer a minha primeira viagem sola, com a minha primeira economia, do meu primeiro trabalho oficial. O que já é bem comum pelas bandas daí afora, fato. Tanta gente metendo a fuça no mundo, eu é que não vou ficar parada olhando o branco da parede. Mas tirando as poucas almas que me apoiaram, tudo o que eu ouvi (ou vi nos olhares) foi algo variando entre:
"Nossa, sozinha... qual a graça?"
"Mas é arriscado!"
"Doida..."
Quinze dias, três destinos e uma mochila.
E cê sabe, eu tô torcendo pra que eles estejam certos.
Oxalá! |
"Mas o que pode valer a vida,
se o ensaio da vida,
já é a própria vida"
(Milan Kundera)
7 Comentários:
Clara, qual o seu roteiro?
Salvador, Morro de São Paulo e Itacaré!
aliás, veja quem apareceu! :)
haha
nem vem! você foi quem andou desaparecida.
qual a razão para os destinos escolhidos?
uma amiga já me falou muito bem de itacaré. acho que você também vai curtir se gostar de natureza como ela.
se resolver subir mais um pouco e chegar por perto de natal, me avise..
aproveite a viagem!
e não suma! :P
Hahah não é bem assim, vai. Eu desapareço porque não quero postar qualquer coisa aqui, só pra encher aquela lateral direita ali de números. Seria perda de tempo pra mim e desrespeito com quem lê. e vice-versa.
A Bahia é top five na minha lista de destinos brasileiros. Paixão à primeira vista em 2007, tem que cuidar pra não virar platônica. além disso, eu não queria sair viajando pra fora sem nem mesmo conhecer meu país.
Natal tá na lista também! ouço maravilhas! você é daí? :D
seeeei... vc some de um jeito que até pra responder comentários fica difícil hahaha
nunca fui à bahia. confesso que nao rola uma grande curiosidade, mas vc falando assim até anima.
pois é. sou de natal sim! quando vc vem pra cá? vamos trocar mais informações, te ajudo no que puder no seu roteiro!
bom início de semana!
Eu fui uma que disse que era doida.. rsrs Bjo e aproveite! Tenho certeza de que vai aproveitar muuuuiitoo!!
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